quinta-feira, 15 de abril de 2010

Metade perdida

Sempre gostei de ouvir Flávio Gikovate falar sobre amor e sexualidade, até porque, a par da desenvoltura com que aborda o assunto, ele consegue escarafunchar a temática e mostrar, sem rodeios, “as dores e as delícias” que permeiam os relacionamentos humanos.

Após ouvi-lo falar sobre solidão em um programa de TV, interessei-me em ler algo a respeito e, já buquinando, deparei-me com “Ensaios sobre o amor e a solidão” (MG Editores), do próprio Gikovate. Ao olhar o sumário, fiquei curiosa para ler o último capítulo do livro, cujo título “Solidão é bom”, tem muito a ver com meu momento atual. Optei então por iniciar a leitura pelo fim...

As palavras, muito bem postas pelo autor, funcionaram como um bálsamo para o meu espírito. Pude constatar que, por incrível que pareça, assumir a nossa condição de seres solitários – estejamos acompanhados ou não –, é pressuposto para a construção de relacionamentos saudáveis. O encontro com a nossa subjetividade é importante para alcançarmos o equilíbrio emocional, fazendo-nos únicos e inteiros, sem propensões, portanto, a encontrar, a qualquer custo, a aclamada “metade” perdida. A partir do momento em que nos mantivermos firmes nesse objetivo, inegavelmente, estaremos prontos para repelir relações que funcionam apenas como paliativos para a dor do desamparo.

Não estou defendendo a solidão a ponto de querer alçá-la a patamares mais elevados, tampouco exaltá-la  a ponto de ficarmos ciosos da nossa condição de seres solitários. O que precisamos, na realidade, é aceitar a solidão como algo inerente à condição humana. É visível que a impossibilidade de suportá-la acaba levando pessoas a emendarem relacionamentos um atrás do outro apenas para “tapar o buraco” que, infelizmente, não dão conta de enfrentar.

A sensação de aconchego trazida pelo convívio saudável com um parceiro romântico é agradabilíssima. A despeito disso, no entanto, às vezes, é preciso “escolher entre sermos mais significantes e desamparados ou mais insignificantes e aconchegados”. Difícil escolha, não?
Beijos,

Leila