sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dias melhores virão

“O importante é estar pronto para, a qualquer momento, sacrificar o que somos pelo que podemos vir a ser” - Charles du Bois

Nesta nova fase da minha vida, me atrever a fazer coisas até então nunca experimentadas já virou denominador comum. Sem exacerbar, tudo é novo e inusitado na rotina de quem, agora, precisa andar com as próprias pernas e, naturalmente, escolher os próprios caminhos e metas a serem alcançadas sem contar com o apoio ou a opinião do parceiro de tantos anos.

Como tudo na vida tem dois lados, posso dizer que o lado bom dessa história é poder se descobrir, olhar para dentro de si mesma e enxergar os próprios desejos, limites e gostos, até então contidos e sufocados por conta do projeto de vida a dois. Não, não me venham dizer que é fácil conciliar os interesses nem sempre convergentes de um casal! O que se vê na maioria dos relacionamentos, talvez por uma questão cultural, é a mulher sempre se amoldando ao gosto do marido e filhos. A propensão a ser Amélia ainda hoje é algo preponderante no universo feminino.

Para seguir adiante, é preciso estar aberta a novas amizades, a contatos com pessoas que estejam na mesma situação. Mesmo sem saber muito bem como fazer, é necessário evitar que o corpo e a alma entrem num processo de letargia que, fatalmente, nos deixaria amuadas e murchas para os enfrentamentos do dia a dia.

Não é fácil embaralhar tudo de novo e conseguir boas companhias para usufruir um pouco do que a vida tem para oferecer. Nem sempre aquela amiga de todas as horas está disponível, até porque ela também se casou (talvez, até já se separou), tem filhos e, embora continue firme na amizade, precisa se desdobrar para dar conta das mil e uma funções que a vida nos impõe.

Existem ainda aqueles que, bem intencionados, insistem em apresentar alguém, uma conhecida, novata no universo dos celibatários, para nos acompanhar em alguma balada, ou até um pretenso candidato para, quem sabe, dar um colorido especial à vidinha mais ou menos que você tem levado ultimamente.

E assim prosseguimos, dia após dia, meio capegando, todavia, firmes na esperança de que dias melhores virão.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Complexo de santa

É realmente muito difícil se desvencilhar de conceitos que nos foram incutidos ao longo de toda vida. Ser criada sob o jugo dos ditames cristãos nos dá resignação para suportar situações nem sempre confortáveis, mas, por outro lado, nos acovarda perante outras que, nem de longe, deveríamos aguentar. Talvez porque esteados na crença de que a vida eterna é que vale a pena, nos acomodamos e nos sujeitamos ao que, figurativamente falando, se resumiria à cruz que cada um de nós tem de carregar. Trata-se da tão propalada missão que devemos cumprir ao longo da vida!

Os momentos diferentes por que passamos nos fazem olhar para nós mesmas de maneira diferente o que, evidentemente, implica dizer que, a partir do momento em que nossas perspectivas mudam a apreciação de fatos outrora vivenciados também adquirem outra valoração.

Digo isso porque, neste período em que não estou vivendo em par, tenho me esforçado para me descobrir dona de mim mesma. Assenhorear-me de um alguém que, nesse processo de busca, se sente responsável pelos seus próprios desejos, pelos seus sonhos, pelo seu destino, pelos seus desatinos, enfim, pela sua história.

Embora esteja longe de estar pronta, acabada – é certo de que nunca estarei – , tenho me regozijado com o fato de sentir-me dona do meu tempo, da minha rotina, do meu gosto, do meu querer. É óbvio que ainda não me acostumei com o preço que se paga por isso. Tudo acontece no ritmo do toma-lá-dá-cá e o preço, indiscutivelmente, é o ônus: se de um lado, há diversão; do outro, há deveres a cumprir e, assim por diante...

Apesar disso, no entanto, sinto-me liberta. A sensação de estar em construção, de estar à espera de um porvir que parece não chegar nunca, apesar de desagradável, às vezes, me faz constatar que é muito bom lutar por mim mesma, lutar para ter a minha vida – quiçá a alma – de volta, o brilho no olhar, o sorriso na face. Tudo isso me faz crer que, parafraseando Nelson Rodrigues[1] – o complexo de santa que acomete muitas de nós, aos poucos, está se distanciando de mim.

Oxalá, meu Deus!
Beijos,

[1] O teatrólogo e escritor brasileiro cunhou a expressão "complexo de vira-latas", que, originariamente, dizia respeito ao trauma sofrido pelos brasileiros, quando, na Copa do Mundo de 1950, nossa seleção foi derrotada pela seleção uruguaia. Atualmente, tal expressão ainda é utilizada para se fazer alusão à baixa auto-estima do brasileiro em face do restante do mundo civilizado.