quarta-feira, 28 de abril de 2010

Embaralhando de novo

Em alguns momentos, resistimos bravamente em aceitar que determinada etapa da vida se encerrou. Insistimos em postergar a mudança e, de forma remansosa e – por que não dizer – teimosa, repelimos o amanhã e tudo o que o horizonte da vida nos reserva. Valho-me da terminologia utilizada pelos usuários do videogame: não queremos, de forma alguma, mudar de fase...

Por mais paradoxal que seja, parar no tempo (e na fase, lógico), a despeito da exaustão trazida pela mesmice, implica também estar na zona de conforto, vez que, por medo do desconhecido, do novo, do incomum, opta-se por esmorecer e, consequentemente, por, aos poucos, entregar os pontos de uma vida que, sem dúvida, apresenta outras facetas. Afinal, é preciso vivenciar as outras fases, não?

Mas, como mudar, se não se renuncia à fase anterior? Ora, se não nos esforçamos para isso, ficaremos reféns do medo, da insegurança e do desânimo e, portanto, estagnados no tempo e no espaço.

Seguir adiante na estrada da vida implica basicamente dar conta de prosseguir na caminhada rumo à fase seguinte, trazendo na bagagem a experiência haurida ao longo dos anos. É certo que, na tralha juntada, há que se inserir o rol de erros e acertos a ser sabidamente consultado caso surja, no percurso, situações similares àquelas outrora vivenciadas. É assim que se aprende...

Para prosseguir, o melhor a fazer é esquecer o passado. É não olhar pra trás. É ter consciência de que tudo está em movimento e de que nada voltará a ser como era antes, até porque não dá para passar pelas mesmas águas. É deixar as indagações pra trás, é finalizar o sofrimento, é reformular os conceitos, é mudar os espaços, é continuar a jornada é, sem dúvida, embaralhar tudo de novo. Com muita coragem é fé - diga-se de passagem.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Desfiz de mais um ano

Em meio aos parabéns, abraços, presentes e telefonemas de amigos e parentes, completar mais um ano de vida é sempre motivo de alegria. Em um mundo que, no dizer de Cássia Eller, está às avessas, a cada ano que passa, somos brindados com a grata sensação de sermos vencedores.

“Desfazer-se" de mais um ano implica reacender a esperança de que será possível começar tudo de novo, embora com um ano a menos. Sábio Rubem Alves!

Na trama da vida, cada um de nós recebe um punhado de anos. A alguns, cabe apenas a milésima parte do inteiro. Para outros, a tessitura é maior e o fio empregado vai diminuindo à medida em que os anos vão se passando. Não sabemos se restam duas, cinco, vinte, cinquenta ou setenta fileiras...

Só sabemos que cada dia que passa é menos um dia. A angústia da consciência de que somos mortais, de que, de repente, seremos capturados deste mundo nos apavora, nos sufoca, nos paralisa e, por vezes, nos desnorteia. Triste angústia do fim!

Embora isso seja real, os anos vividos não me roubaram o entusiasmo, tampouco as marcas do tempo, que, aos poucos, vão se tornando visíveis. As marcas da alma? Essas também estão aqui e, naturalmente, são elas que me empurram pra frente, me fazem melhor e, sem dúvida, mais forte. Olhar pra trás?! Nem pensar. Pelo contrário, quero seguir adiante, “fazendo da queda um passo de dança”.

No último domingo, respirei fundo, senti a brisa no meu rosto, olhei para o céu azul e agradeci a Deus por estar aqui. Viva e cheia de saúde! Agradeci por ter sido acarinhada pela minha família, pelos meus amigos, os de longe e os daqui de pertim. Agradeci pelo abraço do meu filho, pelo afago da minha mãe, pelo carinho da minha irmã. Agradeci, sobretudo, a Deus.

É isso. Viver é uma bênção! Viva la vida.



quinta-feira, 15 de abril de 2010

Metade perdida

Sempre gostei de ouvir Flávio Gikovate falar sobre amor e sexualidade, até porque, a par da desenvoltura com que aborda o assunto, ele consegue escarafunchar a temática e mostrar, sem rodeios, “as dores e as delícias” que permeiam os relacionamentos humanos.

Após ouvi-lo falar sobre solidão em um programa de TV, interessei-me em ler algo a respeito e, já buquinando, deparei-me com “Ensaios sobre o amor e a solidão” (MG Editores), do próprio Gikovate. Ao olhar o sumário, fiquei curiosa para ler o último capítulo do livro, cujo título “Solidão é bom”, tem muito a ver com meu momento atual. Optei então por iniciar a leitura pelo fim...

As palavras, muito bem postas pelo autor, funcionaram como um bálsamo para o meu espírito. Pude constatar que, por incrível que pareça, assumir a nossa condição de seres solitários – estejamos acompanhados ou não –, é pressuposto para a construção de relacionamentos saudáveis. O encontro com a nossa subjetividade é importante para alcançarmos o equilíbrio emocional, fazendo-nos únicos e inteiros, sem propensões, portanto, a encontrar, a qualquer custo, a aclamada “metade” perdida. A partir do momento em que nos mantivermos firmes nesse objetivo, inegavelmente, estaremos prontos para repelir relações que funcionam apenas como paliativos para a dor do desamparo.

Não estou defendendo a solidão a ponto de querer alçá-la a patamares mais elevados, tampouco exaltá-la  a ponto de ficarmos ciosos da nossa condição de seres solitários. O que precisamos, na realidade, é aceitar a solidão como algo inerente à condição humana. É visível que a impossibilidade de suportá-la acaba levando pessoas a emendarem relacionamentos um atrás do outro apenas para “tapar o buraco” que, infelizmente, não dão conta de enfrentar.

A sensação de aconchego trazida pelo convívio saudável com um parceiro romântico é agradabilíssima. A despeito disso, no entanto, às vezes, é preciso “escolher entre sermos mais significantes e desamparados ou mais insignificantes e aconchegados”. Difícil escolha, não?
Beijos,

Leila